segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Sylvia Plath - O Espelho

Picasso, Girl Before a Mirror



Sou prateado e exacto. Não tenho preconceitos.
O que vês engulo de imediato
Tal como é, desembaciado de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente verdadeiro —
O olho de um pequeno Deus, de quatro cantos.
O tempo todo reflicto sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto tempo
Que a sinto parte do meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.
Agora sou um lago.
Uma mulher inclina-se sobre mim,
Buscando nos meus domínios o que realmente é.
Mas logo se volta para aquelas mentirosas, as velas e a lua.
Vejo suas costas e as reflicto-a fielmente.
Ela recompensa-me com lágrimas e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã a sua face substitui a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Cresce para ela dia após dia como um peixe horrendo.

in Ariel, 1965

Sem comentários:

Enviar um comentário