sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sylvia Plath - Ariel

Enquanto procurava imagens do filme "Sylvia" no youtube, encontrei esta gravação do poema "Ariel" dito pela própria Sylvia Plath.


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Sylvia

O filme Sylvia de 2003 é um retrato fiel da vida e obra de Sylvia Plath, Gwyneth Paltrow encarna o espírito atormentado da poetisa. Acompanhada por um Daniel Craig no papel de Ted Hughes, um pouco menos convincente, a dinâmica do casal permite-nos compreender a angústia profunda de Plath no final da sua vida.
Aqui fica a cena inicial:

Sylvia Plath - O Espelho

Picasso, Girl Before a Mirror



Sou prateado e exacto. Não tenho preconceitos.
O que vês engulo de imediato
Tal como é, desembaciado de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente verdadeiro —
O olho de um pequeno Deus, de quatro cantos.
O tempo todo reflicto sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto tempo
Que a sinto parte do meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.
Agora sou um lago.
Uma mulher inclina-se sobre mim,
Buscando nos meus domínios o que realmente é.
Mas logo se volta para aquelas mentirosas, as velas e a lua.
Vejo suas costas e as reflicto-a fielmente.
Ela recompensa-me com lágrimas e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã a sua face substitui a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Cresce para ela dia após dia como um peixe horrendo.

in Ariel, 1965

O poeta da Semana - Sylvia Plath (1932-1962)



A poesia foi desde sempre um campo feminino, embora, tal como nas restantes áreas literárias, sejam relativamente poucos os nomes de poetisas que permaneceram na memória dos tempos. Sylvia Plath, apesar da sua morte prematura deixou uma marca indelével no espectro poético americano da década de 50/60.

Nascida em Boston, em Outubro de 1932, desde cedo demonstrou sensibilidade e a inteligência. O seu sucesso escolar era impressionante e devia-se sobretudo à busca da perfeição em tudo o que fazia. Depois de publicar o seu primeiro poema com a idade de 8 anos, nunca mais deixou de acrescentar a sua obra, tendo escrito mais de quatrocentos poemas durante a sua estadia na universidade
No entanto, a perfeição superficial de Sylvia escondia problemas pessoais graves, em grande parte relacionados com a morte do seu pai. Estes problemas originaram uma tentativa de suicídio aos dezoito anos (experiência que descreve na novela autobiográfica “The Bell Jar”. Depois de um período de recuperação numa instituição psiquiátrica, Sylvia retoma o seu sucesso e termina os estudos, obtendo mesmo uma bolsa para estudar em Cambridge, na Inglaterra.
Em 1956 casa com o poeta ingles Ted Hughes, e, em 1960 publica o seu primeiro livro. Os poemas deste livro revelam uma precisão milimétrica e a dedicação que a poetisa dedicou à sua aprendizagem. No entanto, dão apenas uma ténue imagem da poesia que viria a escrever durante os anos seguintes.
Após a ruptura do seu casamento e com dois filhos, Sylvia instala-se em Londres. A dureza da vida que leva aumentam a necessidade de escrever, chegando a produzir um poema por dia durante este período. O suicídio, palpável nas suas últimas obras acontece no dia 11 de Fevereiro de 1963. Dois anos mais tarde, Ted Hughes edita os seus últimos poemas nas colectâneas: Ariel, Atravessando a água e Árvores de Inverno.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Escola de escrita criativa


Em sequência do desafio de escrita deixo aqui uma sugestão que descobri a semana passada enquanto me passeava pelo Chiado: na Praça Luís de Camões, em Lisboa existe uma escola de escrita criativa (Escrever Escrever). Nesta organizam-se cursos de escrita criativa de duração mensal. Para exemplificar, este mês a escola oferece um curso de "Escrita para crianças" e um curso de "Guionismo - Escrever uma curta metragem", entre outros. O site da escola é www.escreverescrever.com, e lá se encontram todas as informações (preços, horários, duração).
O único senão é ser um pouquito pesado para o bolso, especialmente em época de crise, mas a organização anuncia facilidades de pagamento para quem frequentar mais do que um curso. E não é que Lisboa se vai modernizando pouco a pouco?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Edgar Allan Poe - 2º centenário




Ontem comemorou-se o segundo centenário do escritor Edgar Allan Poe, um dos precursores da literatura de ficção científica e fantástica modernas. Algumas das suas novelas são das primeiras obras reconhecidas como policiais.
Poe escreveu tendencialmente histórias de terror com um estilo gótico, sendo temas recorrentes a morte, a decomposição do corpo e o luto. A sua obra pode ser classificada como romantismo negro.
Além do horror, Poe também escreveu sátiras, usando a ironia e a extravagância do ridículo, na tentativa de libertar os leitores da conformidade cultural.
A sua influência na literatura e cinematografia de horror é notória, sendo frequentes as referências de Hitchcock e Stephen King ao trabalho do mestre Edgar. O escritor explora sentimentos primários dos seus leitores, como o medo, o nojo e a ansiedade, tal como pode ser observado no excerto seguinte do conto "O gato preto":

"Seria insensato falar dos meus pensamentos. Senti-me desfalecer e encostei-me à parede da frente. Tolhidos pelo terror e pela surpresa, os agentes que subiam a escada detiveram-se por instantes. Logo a seguir, doze braços vigorosos atacavam a parede. Esta caiu de um só golpe. O cadáver, já bastante decomposto e coberto de pastas de sangue, apareceu ereto frente aos circunstantes. Sobre a cabeça, com a vermelha goela dilatada e o olho solitário chispando, estava o odioso gato cuja astúcia me compelira ao crime e cuja voz delatora me entregava ao carrasco. Eu tinha emparedado o monstro no túmulo!"

1º Desafio de escrita

O tema do 1º desafio de escrita é:

Águas passadas não movem moinhos.


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Desafio de escrita do Clube das Letras

Nas resoluções do Novo Ano, normalmente encontra-se uma que diz respeito à trilogia árvore/filho/livro. Muitos de nós já pensámos que se José Rodrigues dos Santos consegue escrever um romance, então também nós podemos ser escritores. Então o que nos falta? Antes de nos apressarmos a dizer que o que nos falta é o talento pensei que poderíamos fazer uma lista das coisas necessárias a um escritor/romancista:
  1. Caneta/lápis/pena/máquina de escrever/computador
  2. Bloco de notas (o Moleskine está na moda, eu cá prefiro aqueles caderninhos pretos do tempo das nossas avós e que encontram na loja dos trezentos)
  3. Ideias
  4. Tempo
  5. Espírito observador e crítico
  6. Originalidade.
O material de escrita não deve ser coisa difícil de encontrar. Como disse, qualquer loja dos trezentos ou bazar chinês possui uma secção dedicada a tudo o que é lápis, apara lápis, borrachas, cadernos, canetas e afins. Já o espírito observador e crítico e a originalidade, não é coisa que se compre no bazar chinês (sobretudo a originalidade! ali tudo é copiado de algo com muito maior qualidade!) e portanto não nos vamos, por enquanto, preocupar com os ditos requisitos.
Concentremo-nos pois no Tempo. Vivemos com permanente falta de tempo. O que é esquisito uma vez que o tempo é sempre o mesmo dos nossos avós e eu não me lembro de a minha avó ter falta de tempo. O grande problema da vida actual são as solicitações. Hoje não escrevo porque tenho de arranjar as unhas dos pés; hoje não escrevo porque há três dias que não vou ao ginásio; hoje não escrevo porque tenho de ir jantar fora.
Correndo o risco de ser banalíssima: escrever pode ser em qualquer lado, em qualquer ocasião, basta vontade e é isso que os escritores mais têm!
Enquanto fervem a àgua, durante a sesta das crianças, no comboio, nos momentos verdes...Há só que aproveitar!
Finalmente, para quem se queixa de falta de ideias (a vossa presente amiga, incluída), pensei abrir este espaço do blog "DESAFIO DE ESCRITA" para lançar uma ideia. Mensalmente, para vós e para mim, deixarei o desafio.
Já não há desculpas!!!

Literatura à distância de um clique...

Nesta era em que se passa grande parte do dia num escritório não há nada melhor do que usar aqueles "momentos verdes" para deambular por entre as páginas da Internet que nos interessam mais. No meu caso, visito normalmente sites que tenham tudo menos questões de economia, pela óbvia razão de ser economista. Numa dessas deambulações encontrei este site: http://www.portaldaliteratura.com/. Os autores assumem que o dito "ambiciona ser um ponto de encontro entre quem gosta de escrever e quem gosta de ler ou ainda de quem gosta de ambas as coisas". Estão vocês a pensar: eu cá também ambiciono escrever como o Saramago, e no entanto até a lista do supermercado coloca dificuldades. Pois é, mas estes senhores apresentam-nos um site bem pensado, cheio de novidades e com o que de melhor se vai publicando em Portugal. Vale mesmo a pena.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Jacques Prévert - O amor

Imenso e vermelho

Imenso e vermelho
Por cima do Grand Palais
O sol de Inverno aparece
E desaparece
Tal como ele o meu coração vai desaparecer
E todo o meu sangue irá
Irá à tua procura
Meu amor
Minha beleza
E te encontrará
Lá onde tu estiveres.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Jacques Prévert - A guerra e a violência

O Ministro da Guerra:
Continuo.
Um hospital destruído: dez, cem -
e eu sou modesto -
podem ser reconstruídos
E a lei passou por unanimidade
a noite caiu,
o hospital saltou com uns bocados do quarteirão.
O dia nasce sobre a cidade
onde o riso a diminui, se dissipa e desaparece.
Tudo se torna grave.
A vida, como a Bolsa retoma o seu curso
e a mobilização geral continua normalmente.
in, Paroles, 1947

domingo, 11 de janeiro de 2009

O poeta da semana - Jacques Prévert (1900 - 1977)

O cavalo vermelho

Nos passeios da mentira
O cavalo vermelho do teu sorriso
Gira
E eu estou de pé plantado
Com o triste chicote da realidade
E não tenho nada a dizer
O teu sorriso é tão verdadeiro
Como as minhas quatro verdades.




Jacques Prévert





Nasceu em França em 1900 numa família de intelectuais. O seu pai, crítico de teatro, coloca-o desde cedo em contacto com a arte e a sua mãe incute-lhe o gosto pela leitura. Em 1925, depois de terminar os estudos e ter feito o serviço militar, participa do movimento surrealista , junto com seu grupo, formado por Marcel Duhamel, Raymond Queneau e Yves Tanguy. Deste período ficar-lhe-ão alguns traços surreais na poesia que escreve durante a sua vida.
Começa por ser argumentista tendo escrito grandes filmes franceses realizados entre 1935 e 1945. Escreve também letras de canções e peças de teatro. Em 1946 publica o seu primeiro livro de poesia – Paroles, um sucesso de vendas, mas um fracasso junto da crítica. Apesar disso, Prévert torna-se um grande poeta popular, graças à sua linguagem familiar, seu senso de humor, seus hinos à liberdade e os jogos de palavras. Os seus temas mais comuns são a religião, o amor, a tristeza, a beleza simples, a violência e a guerra e os pássaros.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Bibliotecas Públicas

No meu último post falei sobre a economia dos livros. A economia dos livros, como a outra mais generalizada, está em crise. Ora, como acho que não adianta "chover no molhado" e repisar a questão, decidi apresentar a solução para a crise. Portugal tem uma riqueza que por vezes ignoramos: as pessoas e os seu projectos. E há pessoas cujo projecto é o de divulgar e generalizar a leitura. Estas pessoas são responsáveis pela existência de dezenas de Bibliotecas públicas em cada distrito do nosso estimado país. A sério, é só dar uma olhadela ao site http://bibliotecas.wetpaint.com/ e lá estão todas as nossas bibliotecas. Para ser membro apenas têm de levar apresentar o bilhete de identidade e um comprovativo de morada. É fácil e grátis.
Já agora as bibliotecas não têm só livros; têm CD's e Filmes que podem ser requisitados tal como os livros e secções especiais para crianças. E tudo mesmo grátis!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A economia dos livros

Os livros em Portugal são caros. Não é uma opinião. É um facto.
Os livros em Portugal são grandes de capa grossa e cores vivas.
São caros e grandes.
Pesam no bolso e na mala, mas ficam lindos na estante.
Os livros em Portugal são caros, lindos e decorativos.
Os livros em Inglaterra.
Os livros em Inglaterra são baratos.
São baratos e existem em formato de bolso.
Não pesam no bolso e cabem no bolso.
Os livros em Inglaterra são baratos e pequenos.
E as pessoas lêm-nos, no comboio, no metro, na cantina.
Quando se chega ao fim parecem um farrapo. Não ficam bem na estante.
Pelo menos não ficam bem numa estante portuguesa de livros grandes, caros e perfeitos.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Livro para o mês de Janeiro de 2009


Apresentamos o livro do Clube das Letras para o mês de Janeiro de 2009:


Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago,


Publicado em 1995, três anos antes de José Saramago ser laureado com o Prémio Nobel da Literatura, o "Ensaio sobre a Cegueira" é uma das obras mais lidas do autor. Na apresentação pública do livro, Saramago afirma:

"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."
Sendo o nono romance do autor, é marcante por ter dado início a uma nova fase na escrita de Saramago, em que os enredos deixam de se desenrolar em locais ou épocas determinados e personagens dos anais da história se ausentam. Em Ensaio sobre a Cegueira, as personagens deixam de ter nomes próprios, são tipos sociais, o médico, o velho, a mulher do médico, o rapazinho estrábico. Representantes aparentemente aleatórios de uma sociedade decadente.

Saramago assume-se assim como um escritor que escreve com a esperança de melhorar as condições do mundo. Extremamente crítico da sociedade actual, os seus romances mais recentes e o "Ensaio sobre a Cegueira" em particular, desconstroem a estrutura social de forma a demonstrar a sua fragilidade. Neste romance, uma praga de cegueira afecta a população, sem que se descubram as causas ou meios de contágio. A destruição da sociedade é inevitável.

Saramago explora com maestria os temas do medo, exclusão social, lealdade, dependência e fragilidade da vida humana, conduzindo o leitor por um turbilhão de emoções. As personagens movimentam-se num contexto de destruição progressiva da sociedade que conhecem. A luta pela sobrevivência confude-se com a luta para criar laços e a busca do significado da vida fora das estruturas politico-economicas vigentes.

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara"


Bem vindos ao Clube das Letras

Caros leitores,

Decidi criar este blog com o objectivo de reunir pessoas interessadas em trocar impressões e sugestões sobre livros e leituras. É um blog aberto a todos os géneros literários, e todas as formas de escrita; a autores nacionais e estrangeiros. É também um blog aberto a todos os que queiram divulgar a sua escrita, contos, cartas, pensamentos. Em cada mês sugerirei uma leitura e lançarei um desafio de escrita e ficarei ansiosa pelas vossas reacções.
Saudações literárias
F.